6.29.2012

Algumas coisas que sei, ou desconfio que sei, de Issaac Bábil

Se escrevesse a minha autobiografia, intitulava-a "História dos Adjectivos"
Issaac Bábil

Baseio-me numa entrevista que ele deu em 1937, no decurso de um sarau na União dos Escritores Soviéticos, com todas as cautelas que o terror stalinista lhe exigia. De nada lhe valeram as cautelas, porque em 1939 foi proibido, banido, completamente fodido e, ao que parece, fuzilado em 1941. (De nada valem as cautelas quando o terror, antes de apodrecer, viceja em mito de seiva vermelha. Veja-se a Roja, mito finalmente despedaçado, cilindrado por um futebol português anárquico, humilde e trabalhador, sim, mas nada cauteloso.) Nessa entrevista, Bábil ensinava os mais jovens a escrever, mesmo sendo contra a aprendizagem da escrita. "Quando era jovem, pensava que a sumptuosidade deve ser descrita de maneira sumptuosa. Não é verdade. muitas vezes é preciso partir do ponto de vista oposto. Sempre soube, em quase toda a minha vida, 'o que escrever', mas como não podia escrevê-lo em doze páginas, limite que impusera a mim próprio, tive de escolher palavras em primeiro lugar significativas, em segundo lugar simples e em terceiro lugar belas." E o que resta a don Vicente del Bosque, um homem honesto, diga-se, e à imprensa do declínio espanhola, do mito que é tudo e nada? Resta um penálti à la Panenka, verdadeira façanha de heroísmo louco, e ainda outro penálti bem sucedido (note-se que, para salvaguardar os derradeiros estilhaços do mito, a palavra loteria foi banida do analismo dos espanhóis), contra os nossos dois falhados por pedreiros toscos já bêbados de cansaço.
acho que deixo para um dia destes as duas ou três coisas que sei de Bábil, porque nos blogues, como na vida, os textos devem ser curtos.

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